domingo, 11 de março de 2012

Mochila, a companheira

Mais que um equipamento, ela é uma verdadeira companheira de viagem. Aquela em que se pode contar em toas as horas. Ela será parte integrante do meu corpo e se adaptará a minha anatomia de forma que se tirarmos uma radiografia, mostará um só corpo.
Como as tartarugas, será a "minha casa" nos tempos de caminhada. Nela estarão as minhas poucas coisas que usarei, minha cama, meus remédios, meus equipamentos,meu conforto, minha água e um pouco de comida.
A mochila será a "válvula de escape" e terá que aguentar minhas lamúrias, minhas reclamações, minhas alegrias, meus contentamentos. Será meu apoio, meu travesseiro, minha companheira, minha marca. Tudo o que precisarei estará guardado na minha mochila.
Essa companheira tem a anatomia perfeita para ser carregada por uma mulher, e pesa 1.600Kg. Não é muito leve, portanto não poderá carregar muito peso, pois sabemos que o limite deverá ser de 6 kg.



"Nunca ore suplicando cargas mais leves, e sim ombros mais fortes"Philips Brooks




Essa grande companheira vai representar durante o caminho um peso grande, e acondicionará exatamente o que eu poderei carregar. O Caminho é da simplicidade, e essa simplicidade é representada nas poucas coisas que carregamos, o mínimo mesmo.

Ainda não sei quanto a minha mochila vai carregar, vou verificar o peso total na próxima semana, mas preocupada com isso, eu e a Daniele ( minha companheira de caminhada), estamos tentando diminuir o peso o mais que podemos. na semana passada fizemos algumas pesquisas e encontramos algumas soluções interessantes. Conseguimos um sabonete que pesa só 30 grs, um creme dental de 12 grs, ganhei amostras de protetor solar de 10 grs ( obrigada minha querida Ana Jô!), eliminei minha garrafa de água pois percebi que ela será um peso muito grande ( ainda não sei qual será a minha alternativa), separei as páginas do guia que tratam somente da parte do Caminho que iremos percorrer, estou a procura de um pequeno canivete ( o que eu tenho pesa demais!!), enfim, estamos buscando qualquer grama que podemos eliminar.

Ontem participamos da palestra sobre o Caminho de Santiago, acho muito interessante essas palestras pela troca de experiências. Uma pessoa deu um depoimento que de alguma forma assustou a todos nós. Ela é uma moça pequena ( não tem mais de 1,60m de altura), já percorreu o Caminho de Santiago por 2 vezes e disse que sua mochila pesa 20Kg! Isso mesmo!! Ficamos todos estasiados em imaginar como ela conseguia caminhar, como ela mesmo diz, perto de 40 km por dia com esse peso no verão espanhol. Não consigo imaginar até agora!







Mas, fazendo um outro exercício, posso imaginar outras coisas que carregamos sem necessidade, e mesmo sem nenhuma mochila. Carregamos culpas, medos, ressentimentos, responsabilidades, sonhos, projetos, memórias, o mundo nas costas! Como Atlas, que na Mitologia Grega foi condenado por Zeus a carregar os céus ( o mundo) nas costas.









Algumas pessoas usam a memória como uma caixa preta, onde tudo se pode armazenar, e um dia será aberta ou então explodirá.
Outras pessoas usam a memória como aprendizado, para seguir tranquilo e sereno a vida, aprendendo sempre. Tem aquelas pessoas que usam a memória como âncora, e sustentam a sua vida em cima de coisas boas ou ruins que já se foram. existem também aqueles que carregam suas memórias como um balão dirigível, e seguem sua vida para o alto.
Mas todos nós carregamos alguma coisa em lugares diferentes, coisas diferentes. Muitos carregam fotos de pessoas queridas, oração para proteção, santinho, medalinhas milagrosas, trevo de quatro folhas. Tem pessoas que se desvencilharam de tudo e guardam somente o presente, o hoje e o agora, sem nenhum vínculo ou responsabilidades. Há pessoas que procuram o que carregar, que ainda não se encontraram, não se definiram. Há aqueles que carregam o sofrimento de não poderem ser quem realmente são, não podem seguir o fluxo que a natureza lhes confiou e acabam carregando uma pessoa que não são e nunca serão verdadeiramente.
Muitos carregam a amargura de um passado em que eram felizes e não sabiam, pensando num futuro melhor que talnez não chegue nunca. Já viram aqueles que carregam o time nas costas, outros as vaias da torcida, e ainda os que levam a vida numa boa, ou na flauta e são a carga de outras pessoas.
Tem aqueles que se orgulham em serem independentes, mas na verdade, sustentam uma grande carga e são tão dependentes quanto nem imaginam.
Desde crianças somos lembrados para levarmos coisas como: o casaco, o guarda-chuva, as chaves, a bolsa, a loção de casa, o uniforme de ginástica, o dinheiro do passeio, o presente do amigo, o material para a escola, o livro da biblioteca, do protetor solar.Mas nunca fomos ensinado a esquecer, a esquecer as rixas, problemas bobos,a vaidade, a deixar de comer demais, a beber de menos, do professor que foi mais rígido, do técnico que não nos escalou, do amigo que não nos convidou, do amor não correspondido.







O importante é refletirmos se estamos como o Atlas, se carregamos mais do que suportamos. E você, como anda a sua vida? O que tem carregado nas costas?


Ultreya!

Um comentário:

  1. Acabamos carregando o que acreditamos que vale a pena e o qu acreditamos merecer ser carregado. Cada caminhada uma metáfora da própria vida, ao longo dessa nossa curta jornada chamada "vida" a gente carrega por muito tempo coisas demais por termos crenças demais em coisas demais...
    O "caminhar" nos mostra o que de fato vale a pena, o que merece e o que não merece mais.
    Espero que a sua companheira volte leve, bem leve e que eu ainda esteja dentro dela...
    bj

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