quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Simplesmente ir ver

“Um homem precisa viajar. 
Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor.
Conhecer o frio para desfrutar o calor. 
E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. 
Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. 
Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver”.




Amyr em sua peregrinação




Eu na minha peregrinação à Santiago de Compostela em 2015


N.A. (dez/2018) Reescrevi e atualizei este post, pois ele me trouxe uma mensagem importante nesse momento, compartilho com vocês.



Assim se fazem os peregrinos, os viajantes, os desbravadores, os sanderistas, os caminhantes, tomam seu caminho em busca de aprendizado, do novo, do desconhecido. Agarram-se nos sonhos e fazem deles seu projeto, sua meta e objetivo. Vivenciam histórias, reconhecem lugares, conhecem pessoas e depois voltam para contar, para compartilhar.

O peregrino faz de sua experiência, a experimentação de outras pessoas, transforma o inerte em aventureiro, aguça a curiosidade e faz surgir novos sonhos, novos projetos. É como uma roda que não para. Como diz o peregrino em seu texto acima: nos torna alunos.

O peregrino deixa vivo o sonho, a vontade, apresenta a esperança e a vida volta a pulsar. O peregrino faz o seu caminho e também dos outros caminhantes, mesmo aqueles que não percorrem o mesmo caminho fisicamente. Todos nós caminhamos os caminhos daqueles que vieram antes e nos trouxeram sua experiência, sua memória e suas impressões. E é ai que o próprio caminho se apresenta virgem, nu a ser desbravado por outras pessoas. O caminho é sempre novo, como o rio que não passa duas vezes no mesmo lugar. Assim ele se renova a cada passo.

Cada caminho é único, próprio. Cada pessoa desenha a sua trajetória, faz a sua história, imprime sua marca, deixa a sua pegada.

O peregrino faz o caminho e o caminho se faz no peregrino, é um momento de comunhão, um estado de graça, é o próprio milagre se desvendando. A peregrinação não é somente o ato de caminhar, ela trás consigo uma motivação por ou para algo, tem um valor agregado que cada peregrino em sua individualidade, vai desvendar.





Monte do Perdão em 2015


Eu imagino e acredito que os peregrinos formam uma espécie de "irmandade" invisível, uma legião de pessoas que incumbidas do mesmo propósito se solidarizam, ajudam-se mesmo não se conhecendo. Há uma certa identificação entre os peregrinos, não sei se é tácito, ou se está implícito! Se se percebe no olhar ou no caminhar, ou seria no coração? Sei que os peregrinos se tornam uma grande e numerosa família, que se identifica, se acolhem, se ajudam. A peregrinação, seja ela qual for, tem o poder transformador, agregador, é poderosa e arrebatadora.







Minhas botas, companheiras fiéis!



Outra peculiaridade que considero de uma inteligência ímpar, é a maneira como muitos peregrinos se cumprimentam. O famoso "abraço peregrino", nada mais é que um abraço onde os dois corações ficam na mesma direção, de coração para coração.




Abraço peregrino (imagem da internet)



A peregrinação faz mudanças tão significativas e importantes nas pessoas em tão pouco tempo que chega até a impressionar.

Abaixo o trecho de um artigo do peregrino José Palma, publicado no Jornal A Tribuna de Piracicaba que retrata as emoções sentidas durante o Caminho do Sol.


"-- Por favor, me poupe, não me leve a mal, mas detesto abraços.( a peregrina no 1o. dia)

Onze dias depois, ao chegar a Pousada para tomar nosso café dominical, recebo dela um abraço peregrino seguido de justificativas.
-- Palma aprendi a abraçar, como é gostoso!
Aprendi a sorrir, a perdoar, a ficar comigo, a curtir as coisas simples.
Aprendi a ouvir o canto e o encanto dos pássaros, a olhar o céu e contemplar a geografia das nuvens.
Mas principalmente aprendi a viver e conviver com os seres humanos.
Hoje aprendi a receber o calor de um abraço peregrino.
Sei o valor e a importância do braço amigo.
Dos braços que me ajudaram nos momentos difíceis.
Dos braços que me socorreram, quando as pernas me faltaram.
Dos braços fraternos que foram buscar a água que secou.
Dos braços que abraçam.
Como é bom!"




Ultreya e Suseya!