quarta-feira, 17 de junho de 2015

Dobrando calcinhas


"A gente não faz amigos, reconhece-os."

Garth Henrichs

Cada dia do caminho é um dia completamente diferente. O clima, as paisagens, as pessoas, a comida, tampouco nós os peregrinos somos os mesmos!

Saímos em caminhada sem a mínima ideia do que o dia nos reserva! Não sabemos o que, onde e nem que horas conseguiremos fazer uma parada para comer e descansar. Aceitamos e agradecemos cada dia e cada surpresa!!

Uma coisa que me surpreendeu, além da solidariedade típica entre os peregrinos, pude perceber solidariedade entre as pessoas que vivem nos pueblos e trabalham no Caminho. Lindas histórias de grandes períodos vividos na acolhida do Caminho.

Triacastela, na provincia de Lugo, distante 115 Km de Santiago, pueblo com aproximadamente 900 habitantes, local pequeno e com muitas histórias.
Dizem que em algum momento, na cidade haviam 3 castelos, mas agora são somente desenhos incrustados nas paredes da Igreja local que também é dedicada à Santiago.


Fachada da Igreja de Santiago em Triacastela, com os três castelos desenhados


Nas duas vezes em que lá estive, fiquei no Albergue privado Refúgio del Oríbio (nome do rio que passa na região), comandado pela querida Elvira.
Em 2012, eu e Elvira já tínhamos ficado amigas, conversamos bastante e ela nos indicou o Bar da Esther para o jantar. Foi a melhor refeição de todo o Caminho!! Além da simpatia, a Esther tem mãos de fada para cozinhar! Começando pela sopa de lentejas, passando pelo bacalhau, tudo é é divino! E para terminar de sobremesa o especial queijo do Cebreiro com mel, tudo de comer de joelhos!



Albergue Refúgio del Oríbio

Neste ano, eu já vinha fazendo a maior "propaganda" do bacalhau da Esther para a Lia. Estávamos em Triacastela e ansiosa pelo jantar! Ao chegarmos no mesmo albergue, fomos recebidas por uma senhora amiga de D. Elvira, que estava almoçando.  Logo depois, chegou D. Elvira muito triste pois havia perdido uma prima. As duas amigas ficaram um bom tempo conversando e dobrando lençóis, com uma técnica bastante apurada, e grande rapidez!

Eu e a Lia, deixamos grande parte de nossa roupa para lavar sob a responsabilidade de D. Elvira, e seguimos para o famoso jantar no Bar da Esther, mais uma vez a expectativa se cumpriu!!

Lá estava a Esther, com seu lindo sorriso! O menu já era esperado, a sopa de lentejas e o tão aguardado bacalhau! Tudo maravilhoso me remetia a primeira vez em que lá estive com a Dani em 2012.
Durante o jantar ficamos observando e admirando o trabalho da Esther em seu restaurante. Ainda me intriga como ela consegue administrar, servir, cozinhar, lavar, tudo sozinha no seu restaurante, e ainda me contou que tem um albergue rural em sociedade com uma amiga no qual trabalha todos os dias até as 10:00hs da manhã!!


  
Restaurante Café Esther


De volta ao albergue, D. Elvira nos avisou que estava saindo para rezar o terço pela prima e nos deixaria (a todos os peregrinos), sozinhos.

Então eu resolvi procurar nossa roupa que já deveria estar seca, quando me deparei com uma cena inusitada! 
Um senhor, idade entre 65 e 70 anos, na recepção do albergue, terminando de dobrar as nossas roupas... e naquele momento estava dobrando as calcinhas!!! Fiquei parada observando a cena e tentando ajudar, pois ele teve dificuldades em reunir os pares das meias, ficamos conversando por alguns minutos e questionei a razão de estar ali fazendo aquele trabalho. Ele me respondeu que estava ajudando a amiga Elvira, pois ela estava muito chateada naquele dia. 

Realmente a solidariedade extrapola e contagia. A Elvira é uma pessoa de sorte! Tem muitos amigos! 






O queijo maravilhoso dO Cebreiro


Coisas do caminho!

Ultreya!

2 comentários:

  1. Em Triacastela fiquei no mesmo albergue, e também tive o privilégio de conhecer Elvira, que solícita me ajudou a salvar minhas fotos em um pen drive. Achei interessante quando estendeu as roupas lavadas dos peregrinos nos varais montados na calçada em frente ao albergue. Uma curiosidade local.

    ResponderExcluir