Os primeiros dias de caminhada são bastante
difíceis. O corpo ainda se adaptando a rotina, ao esforço, ao fuso horário, a
nova e diferente alimentação, ao estranhamento das camas, do travesseiro, a
língua local, ao clima, as roupas, a mochila, e tantas outras coisas.
Particularmente o meu ritmo de caminhada é bastante
tranquilo, chega a ser lento, Lia e Karine me acompanham. Na saída do albergue
sempre encontramos os moradores do pueblo, o dia nascendo, a vida começando.
Geralmente somos deixadas para trás, pois costumeiramente apreciamos a
paisagem, as pessoas, tiramos fotos, abastecemos de água e frutas, tudo
tranquilamente e sem pressa. Tão sem pressa que eu e a Lia, começamos uma
brincadeira de tirar fotos dos batedores das portas, e descobrimos verdadeiros
tesouros!
um dos batedores de porta
Todos passam por nós, deve passar pelas cabeças:
essas três são muito tranquilas e não chegarão! E não é que chegamos? Duas ou
três horas depois, e lá estamos nós encontrando com os apressadinhos nos mesmos
albergues!
Mesmo sem considerarmos uma competição,
percebemos que muitas pessoas correm contra o relógio e buscam vencer “as
léguas” com maior rapidez. O que nos interessa é o caminhar descompromissado,
ouvindo os pássaros, os cucos (pela primeira vez na minha vida ouvi um cuco de
verdade!), observando os campos, as flores, conversando, rezando, aprendendo,
ouvindo o silêncio, puxando conversa, “temos todo o tempo do mundo” (frase
perfeita de Renato Russo).
Dizem que a tartaruga aprecia melhor a paisagem
do que a lebre. Acredito nisso! Conhecer os lugares caminhando, apresenta a
possibilidade de imprimir na nossa mente uma linda fotografia do momento.
O trecho de Zubiri a Pamplona foi cansativo e
sofrido. Sol, vento, mochila e os pés... sempre dando sinais de vida! Vencíamos
os trechos e procurávamos nos distrair.
Perdi a minha concha, ou melhor, ela se
desapegou. Comprada em Santiago em 2010, quando lá estive com minha mãe, a mesma
que havia usado no Caminho em 2012. Penso que ela está numa mochila nova
passeando por ai. A Lia me presenteou com outra.
Decidimos fazer uma boa parada para uma
alimentação mais reforçada. Escolhemos um local agradável, na entrada uma
enorme escultura de peregrino. Uma cabana de madeira aconchegante. Escolhemos
uma mesa de madeira dentro e já fomos verificando o cardápio. Pedimos uma
tortilla espanhola, mas sugerimos ao chefe do local, outros ingredientes como:
tomate, presunto e queijo (as tortilhas tradicionais levam somente ovos, cebola
e batata). Ele topou (devo registrar que muitos resistem a sugestões) e nos
ofereceu um verdadeiro manjar dos deuses! Ficou deliciosa!
Seguimos o caminho e chegamos a Pamplona já no
fim da tarde. Era o domingo de Páscoa e a entrada da cidade estava deserta.
Parecia um lugar fantasma. Chegamos ao centro da cidade, local próximo a
catedral e próximo ao lindo Albergue Jesus Maria.
O lugar nos surpreendeu logo na chegada. Uma
antiga igreja agora adaptada a albergue de peregrinos, um lugar lindíssimo! Ao chegarmos num horário mais avançado, grande parte do albergue já estava ocupado. Fomos
designadas ao andar superior, local com quatro beliches separados por
divisórias de madeira. Os banheiros grandes e espaçosos, tudo novo e limpo.
Escolhemos nossas camas e tratamos de cuidar do banho, lavanderia, alimentação,
etc.
Nesse dia conhecemos o casal neozelandês Pam e
Derek, simpáticos e animados, que iniciavam o Caminho naquele local, e que seriam nossos companheiros em outras etapas do caminho.
Também no beliche ao lado, um rapaz que imediatamente fizemos amizade, o americano Eric. Ele nos contou que fazia O caminho ao contrário e também tentava bater um Record para o Livro dos Recordes. Ficamos encantadas com a história, a coragem e a resistência dele.
Jantar no Albergue Vitória com Pam e Derek ao fundo
Também no beliche ao lado, um rapaz que imediatamente fizemos amizade, o americano Eric. Ele nos contou que fazia O caminho ao contrário e também tentava bater um Record para o Livro dos Recordes. Ficamos encantadas com a história, a coragem e a resistência dele.
Eric com as Divas.
Eric realmente batia recordes...caminhava em média 60 Km por dia, com uma única parada de 4 minutos! Tudo monitorado por equipamentos para o devido registro. Alimentava-se de frutas e castanhas. Sim, ele conseguiu! Porém ainda falta a
homologação pela equipe do Guiness Book.
Para os peregrinos, o Caminho não é uma
competição, mas Eric tinha objetivo próprio, diferente, não menos importante.
O importante é a intenção, o coração e a motivação que nos leva ao caminho.
Hoje, abril/2017, Eric Toddre, voltou ao Caminho, dessa vez pela Via de la Plata, em 2016 percorreu outros também, além da Espanha ainda na França e Itália, acompanhado de sua mãe.
Bom peregrino ele!
Post escrito em 2015
O importante é a intenção, o coração e a motivação que nos leva ao caminho.
Hoje, abril/2017, Eric Toddre, voltou ao Caminho, dessa vez pela Via de la Plata, em 2016 percorreu outros também, além da Espanha ainda na França e Itália, acompanhado de sua mãe.
Bom peregrino ele!
Post escrito em 2015
ULTREYA!
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