quarta-feira, 28 de abril de 2021

O peso que a gente leva...




"Botas...
as botas apertadas são uma das maiores venturas da terra, 
porque, 
fazendo doer os pés,
 dão azo ao prazer de as descalçar."
Machado de Assis









Uma vez, escrevi um texto onde descrevia que os peregrinos formam uma "irmandade", muitas vezes pouco compreendida pelos que estão de fora. Essa "irmandade" se relaciona e se encontra, confraterniza, cria grupos, associações, confrarias, públicas e também privadas ao redor do mundo todo. Hoje, na situação em quer nos encontramos em 2021, um dos locais mais movimentados sem dúvida é nas redes sociais, lugar perfeito para trocas de experiências, informações,  apoio, estudos, e encontros sobre O Caminho.
Outro dia li um texto do Padre Fábio de Melo, nele o autor consegue expressar exatamente o que nós, peregrinos sentimos e buscamos. Ele faz uma analogia entre a vida e a viagem que fazemos durante a nossa existência, e achei perfeito para os peregrinos. Eu me identifiquei muito e por isso resovi compartilhar com vocês. 

Abaixo transcrevi o referido texto:
 
Aproveite a leitura!!


"O peso que a gente leva..
Olho ao meu redor e descubro que as coisas que quero levar não podem ser levadas. Excedem aos tamanhos permitidos. Já imaginou chegar ao aeroporto carregando o colchão para ser despachado?

As perguntas são muitas... E se eu tiver vontade de ouvir aquela música? E o filme que costumo ver de vez em quando, como se fosse a primeira vez?

Desisto. Jogo o que posso no espaço delimitado para minha partida e vou. Vez em quando me recordo de alguma coisa esquecida, ou então, inevitavelmente concluo que mais da metade do que levei não me serviu pra nada.

É nessa hora que descubro que partir é experiência inevitável de sofrer ausências. E nisso mora o encanto da viagem. Viajar é descobrir o mundo que não temos. É o tempo de sofrer a ausência que nos ajuda a mensurar o valor do mundo que nos pertence.

E então descobrimos o motivo que levou o poeta cantar: “Bom é partir. Bom mesmo é poder voltar!” Ele tinha razão. A partida nos abre os olhos para o que deixamos. A distância nos permite mensurar os espaços deixados. Por isso, partidas e chegadas são instrumentos que nos indicam quem somos, o que amamos e o que é essencial para que a gente continue sendo. Ao ver o mundo que não é meu, eu me reencontro com desejo de amar ainda mais o meu território. É consequência natural que faz o coração querer voltar ao ponto inicial, ao lugar onde tudo começou.

É como se a voz identificasse a raiz do grito, o elemento primeiro.

Vida e viagens seguem as mesmas regras. Os excessos nos pesam e nos retiram a vontade de viver. Por isso é tão necessário partir. Sair na direção das realidades que nos ausentam. Lugares e pessoas que não pertencem ao contexto de nossas lamúrias... Hospitais, asilos, internatos...

Ver o sofrimento de perto, tocar na ferida que não dói na nossa carne, mas que de alguma maneira pode nos humanizar.

Andar na direção do outro é também fazer uma viagem. Mas não leve muita coisa. Não tenha medo das ausências que sentirá. Ao adentrar o território alheio, quem sabe assim os seus olhos se abram para enxergar de um jeito novo o território que é seu. Não leve os seus pesos. Eles não lhe permitirão encontrar o outro. Viaje leve, leve, bem leve. Mas se leve."

Pe. Fábio de Melo




Ultreya!

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

Cuidado! Você vai se apaixonar pelo Caminho!

"O seu coração está, onde está o seu tesouro."
Paulo Coelho


Placa em algum lugar do caminho
Cada um de nós é um ser único, em diferentes estágios de evolução e desenvolvimento, pessoal e espiritual. Para quem busca se encontrar e recebe o chamado do caminho de Santiago, posso arriscar dizer que é um privilegiado, pois ao contrário do que a maioria das pessoas acredita, é uma viagem espiritual, um encontro. Esse encontro, é particular, único, pessoal e intransferível. Vai resultar numa transformação profunda, gradativa e irreversível. Ali você vai encontrar seu coração, o seu tesouro. Não importa como, quando, de que forma, qual o trajeto, o percurso, se foi só ou acompanhado, se carregou mochila pesada, onde dormiu, quanto caminhou, o que encontrou.  O seu caminho é o seu caminho, sem padrão, sem formato, sem julgamentos. Ele será desenhado, programado, preparado por Santiago, é só aproveitar, desfrutar e se apaixonar. Sua transformação será tão grande que nunca mais será o mesmo. Suas moléculas, suas células, sua alma e seu espírito não serão mais o mesmo. Assim, o meu grande e definitivo conselho é: aproveite cada minuto e apaixone-se pelo resto da vida!



 Cada pedacinho do caminho fica gravado no coração


ULTREYA!!

quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

Gastronomia no Caminho





A vida é uma combinação 

de magia e macarrão. 

(Federico Fellini)




Finalmente vamos falar de gastronomia!! Agora eu me sinto muito mais segura e preparada para abordar esse tema, que apesar de ser interessante, pode amedrontar muitos peregrinos.


Pessoalmente, eu nunca me preocupei com os diversos tipos de gastronomia que encontrava em minhas viagens, pelo contrário, sempre fui uma apreciadora das iguarias locais, o que me proporcionou ao longo da vida conhecer e aprender sobre diferentes tipos de alimentos, buscar a gastronomia típica de cada lugar e poder degustar de pratos incríveis. Para mim a gastronomia é a expressão de cada povo, o espelho dos lugares, história e vivência.






Café da manhã com muita energia!



Durante O Caminho de Santiago, não foi nada diferente. Logo no primeiro dia em Saint Jean Pied Port (mais conhecido como SJPP), na França, nosso almoço já foi muito especial, comida francesa mesmo, e no jantar, saímos em busca de um crepe verdadeiro, até que tentamos, porém não encontramos e acabamos nos contentando com a tradicional dupla de baguette e fromage!





Sobremesa deliciosa, uma éclair de chocolate


Seguindo o caminho, sempre buscamos o delicioso menu peregrino, que muitas vezes  nos surpreendem. Há diferenças de local e região, mas a base é semelhante: entrada, prato principal, sobremesa, água e vinho, tudo a um preço único que pode variar de 9 à 15 Euros.



Codorna com batatas

E nesse imenso leque de opções podemos encontrar como entradas: salada mista, sopas, caldos, arroz cubano, lentilhas, omeletes, macarrão, tortilha, etc, o prato principal pode ser bem variado: cerdo (porco), batatas, ovos, codorna, peixes, paella, frango, jamon, bacon, polvo, bacalhau e até camarão, e na sobremesa desde uma fruta e sorvete, flan, pudim, até a crema catalana passando pela Tarta de Santiago. 

Posso dizer que se come muito bem na Espanha e também no Caminho. No café da manhã, o famoso desayuno, podemos degustar as famosas tostadas com geléia e manteiga, biscoztos ou pastel (o nosso bolo), medias lunas (croissant) recheados ou não, acompanhados de suco de laranja, café, café com leche, chocolate quente ou com o famoso COLACAO (achocolatado). 
Nos intervalos, além do café, podemos aproveitar as deliciosas tortillas, ou bocadillos (sanduíches) de jamon serrano e diversos tipos de queijos e recheios, além das tapas e pinxos (dependendo da região). Além disso, o peregrino ainda tem a opção de carregar consigo frutas frescas, frutas secas, barras de chocolates e tudo mais o que sua vontade e seu orçamento permitirem e puderem ser encontrados nos mercados locais.




Cerdo e batata frita, típico e bem comum



Eu sou da opinião de que devemos nos permitir provar tudo, e assim podermos avaliar e escolher o que mais nos agrada. E mais que isso, conhecer a cultura local, especialmente nas diferentes regiões.
De tudo o que tive a oportunidade de degustar, alguns lugares e sua culinária me encantaram muito.




O bacalhau da Esther, único e delicioso!


O bacalao da Esther em Triacastela é imperdível. O sanduíche de linguiça da Bocateria Move em Navarrete é inesquecível. A sopa de lentilhas do restaurante do Hotel San Martin Pinario em Santiago de Compostela, é de copiar a receita! O pulpo à galega de Melide. A tarta de Santiago de Portomarin. A torta de atum da Panaderia La Espiga de Oro de Cacabelos é de comer rezando! A codorna do Hostal La Corte em Carrion de los Condes foi surpreendente. O camarão do Rigoletto em  Leon é delicioso!



Almoço no Rigoletto



É fato que cada refeição carrega em sí toda a atmosfera local, a sua disposição, toda a carga emocional do momento, a companhia e também o tamanho da fome.





Essa é a vitrine da Panaderia la Espiga de Oro que comemos a torta de atum


No meio do caminho uma delícia de lanche! Procure um lugar bem aconchegante e se permita provar, experimentar!! Vai se surpreender!

Uma outra opção bastante interessante e que podemos optar em alguns momentos é cozinhar no albergue. Grande parte dos albergues disponibiliza a cozinha gratuitamente para que os peregrinos possam preparar seu alimento. Eu tive a oportunidade de cozinhar algumas vezes, a experiência também é incrível e grandemente econômica! Além de ser uma excelente oportunidade de  compartilhamento, envolvimento e socialização com outros peregrinos. Observo aqui que em alguns pueblos que ficamos, não havia restaurante ou bar abertos para fazermos a refeição, neste caso, cozinhar no albergue era e nossa única opção!



]
Aviso na cozinha do albergue


O que posso concluir é que o peregrino pode sim, se alimentar muito bem durante seu caminho, porém, nunca deixe de colocar na sua mochila algum alimento para seu caminho, ele pode te salvar de situações difíceis.O Caminho alimenta a alma e o corpo! 

Não se esqueçam: "con pan y vino se anda el  camino"!


Que Aproveche!

ULTREYA!



segunda-feira, 18 de março de 2019

Sozinha (o) ou acompanhada (o)?

"Os encontros mais importantes já foram combinados pelas almas antes mesmo que os corpos se vejam..."  
Paulo Coelho


O mais impressionante no Caminho é que ele começa a se desenhar muito tempo antes de acontecer. No seu pensamento, lá no fundo já existe a vontade adormecida, o impulso, o chamado, o tempo é que vai dizer quando ocorrerá, mas o peregrino já está nele! 
Como será esse caminho? Vou conseguir caminhar mesmo todos os dias? Ficarei cansada? Precisarei de ajuda? E se estiver sozinha? É perigoso? Como farei? Essas e muitas outras perguntas se passam na cabeça daquele que quer caminhar pelos caminhos de Santiago, ouço e leio esses questionamento o tempo todo!
Mas tem uma única resposta a tudo isso: Santiago vai preparar um caminho maravilhoso para você! Será o SEU caminho, de mais ninguém! Mesmo que esteja acompanhada (o), cada um tem o seu caminho, único, exclusivo. A vivência é de cada pessoa, o olhar, as dores, o cansaço, a fome, a sede, a beleza, as necessidades, a admiração, o combate é seu e de mais ninguém!
Não crie obstáculos, deixe tudo nas mãos do Santo que Ele vai te trazer seu caminho nas suas mãos. Confie, será maravilhoso! cada passo, cada pedacinho, cada pensamento, cada arrependimento será único, será seu, intransferível!



Na minha experiência, fiz o caminho  2 vezes e sempre acompanhada de amigas, a vantagem é que você tem sempre uma pessoa para te apoiar, trocar, discutir, brigar, rir, se divertir, conversar, ajudar e ser ajudada, compartilhar. Mesmo acompanhada temos os nossos momentos de individualidade, sozinhas, quietas, de reflexão e pensamento. Tudo é questão de escolha! Em momento algum me senti insegura.



Siga sua intuição e coloque seu caminho nas mãos de Santiago!

ULTREYA!!




quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Simplesmente ir ver

“Um homem precisa viajar. 
Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor.
Conhecer o frio para desfrutar o calor. 
E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. 
Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. 
Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver”.




Amyr em sua peregrinação




Eu na minha peregrinação à Santiago de Compostela em 2015


N.A. (dez/2018) Reescrevi e atualizei este post, pois ele me trouxe uma mensagem importante nesse momento, compartilho com vocês.



Assim se fazem os peregrinos, os viajantes, os desbravadores, os sanderistas, os caminhantes, tomam seu caminho em busca de aprendizado, do novo, do desconhecido. Agarram-se nos sonhos e fazem deles seu projeto, sua meta e objetivo. Vivenciam histórias, reconhecem lugares, conhecem pessoas e depois voltam para contar, para compartilhar.

O peregrino faz de sua experiência, a experimentação de outras pessoas, transforma o inerte em aventureiro, aguça a curiosidade e faz surgir novos sonhos, novos projetos. É como uma roda que não para. Como diz o peregrino em seu texto acima: nos torna alunos.

O peregrino deixa vivo o sonho, a vontade, apresenta a esperança e a vida volta a pulsar. O peregrino faz o seu caminho e também dos outros caminhantes, mesmo aqueles que não percorrem o mesmo caminho fisicamente. Todos nós caminhamos os caminhos daqueles que vieram antes e nos trouxeram sua experiência, sua memória e suas impressões. E é ai que o próprio caminho se apresenta virgem, nu a ser desbravado por outras pessoas. O caminho é sempre novo, como o rio que não passa duas vezes no mesmo lugar. Assim ele se renova a cada passo.

Cada caminho é único, próprio. Cada pessoa desenha a sua trajetória, faz a sua história, imprime sua marca, deixa a sua pegada.

O peregrino faz o caminho e o caminho se faz no peregrino, é um momento de comunhão, um estado de graça, é o próprio milagre se desvendando. A peregrinação não é somente o ato de caminhar, ela trás consigo uma motivação por ou para algo, tem um valor agregado que cada peregrino em sua individualidade, vai desvendar.





Monte do Perdão em 2015


Eu imagino e acredito que os peregrinos formam uma espécie de "irmandade" invisível, uma legião de pessoas que incumbidas do mesmo propósito se solidarizam, ajudam-se mesmo não se conhecendo. Há uma certa identificação entre os peregrinos, não sei se é tácito, ou se está implícito! Se se percebe no olhar ou no caminhar, ou seria no coração? Sei que os peregrinos se tornam uma grande e numerosa família, que se identifica, se acolhem, se ajudam. A peregrinação, seja ela qual for, tem o poder transformador, agregador, é poderosa e arrebatadora.







Minhas botas, companheiras fiéis!



Outra peculiaridade que considero de uma inteligência ímpar, é a maneira como muitos peregrinos se cumprimentam. O famoso "abraço peregrino", nada mais é que um abraço onde os dois corações ficam na mesma direção, de coração para coração.




Abraço peregrino (imagem da internet)



A peregrinação faz mudanças tão significativas e importantes nas pessoas em tão pouco tempo que chega até a impressionar.

Abaixo o trecho de um artigo do peregrino José Palma, publicado no Jornal A Tribuna de Piracicaba que retrata as emoções sentidas durante o Caminho do Sol.


"-- Por favor, me poupe, não me leve a mal, mas detesto abraços.( a peregrina no 1o. dia)

Onze dias depois, ao chegar a Pousada para tomar nosso café dominical, recebo dela um abraço peregrino seguido de justificativas.
-- Palma aprendi a abraçar, como é gostoso!
Aprendi a sorrir, a perdoar, a ficar comigo, a curtir as coisas simples.
Aprendi a ouvir o canto e o encanto dos pássaros, a olhar o céu e contemplar a geografia das nuvens.
Mas principalmente aprendi a viver e conviver com os seres humanos.
Hoje aprendi a receber o calor de um abraço peregrino.
Sei o valor e a importância do braço amigo.
Dos braços que me ajudaram nos momentos difíceis.
Dos braços que me socorreram, quando as pernas me faltaram.
Dos braços fraternos que foram buscar a água que secou.
Dos braços que abraçam.
Como é bom!"




Ultreya e Suseya!

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Saudades do Caminho

O chão
a luz
o anoitecer
a neve
a chuva
as folhas
as pedras
as setas
o suficiente
os encontros
as almas
tudo é saudade!





Somos feitos de alma, corpo e espírito. 

E Santiago nos apresenta uma lição de vida que nos testa todos os dias, a possibilidade de escolher estar no Caminho com toda a nossa alma. mesmo não estando lá com o corpo, mesmo não tendo os pés percorrendo aquelas trilhas, aquele solo, aquela energia, podemos levar nossas almas a percorrê-lo. 

a saudade aperta, tento me conectar com o caminho e acessar aquela egrégora de energia e me transportar para as paisagens, os pueblos, as pontecitas, os momentos, o alimento. Sinto a brisa, o vento, a chuva e a neve. Sinto o sabor dos alimentos e do vinho. 

Revivo os momentos, revejo as pessoas, percebo os locais. Eu e o caminho somos um só, mesmo espírito. Só as almas peregrinas compreendem, somente quem escolheu viver esse caminho pode sentir. A saudade é caminhar de volta, é ver os pedaços que deixamos, as marcas, as lágrimas, o que ficou. O caminho é difícil mas com o tempo acabamos esquecendo e a maior vontade é estar lá de volta e viver tudo novamente, contar os dias, as distâncias, o tempo. 

Saudade é todo o dia querer fazer tudo de novo! 


ULTERYA!!!



quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Viver o presente é um presente?

“Se você puder permanecer sempre no presente, 
então será um homem feliz.” 
Paulo Coelho



Uma das mais importantes percepções ao realizar O Caminho de Santiago é estar no presente. Isso significa que o passado faz parte do que você é hoje, e o futuro está sendo construído. Porém, passado e futuro não tem significado. O que vale é somente o presente. 
É observar um passo de cada vez, olhar a natureza e o que ela te oferece naquele momento, é ouvir os sons diferentes e apreciá-los, é perceber a sua respiração e as batidas do seu coração.
No momento da sua caminhada, só o momento presente é o que importa. Onde você vai chegar? Onde irá dormir? O que irá comer? Quem irá encontrar? Nada disso tem importância alguma! 
Viver o momento presente é estar consciente da sua vida neste exato momento, é não ter nenhuma ansiedade e nem remorso ou viver num momento que já se foi. 
E isso tudo é muito incrível! Você se torna senhor do seu tempo agora! Nada te domina ou te controla, a sensação é de total liberdade e plenitude. 
Será essa a grande magia do caminho?
Ou seria um grande presente?







ULTREYA!!!!

terça-feira, 25 de julho de 2017

Dia de Santiago - 25/07


 
Oração de Santiago
 
Apóstolo Santiago, 
Escolhido entre os primeiros,
Tu foste o primeiro a beber
No cálice do Senhor, 
E és o grande protetor dos peregrinos;
Faz-nos fortes na fé
E alegre na esperança,
Em nosso caminhar
De peregrino
Seguindo o caminho 
Da vida de Cristo 
E alenta-nos para que 
Finalmente, 
Alcancemos a glória 
De Deus Pai, 

Assim Seja.
 



O que falar desse Santo agregador e semeador de amor e amizade? 
Aquele que nos chama para momentos especiais de interiorização e comunhão com a natureza e conosco?
O que dizer desse homem simples que a tanto amou Jesus e por seu amor e devoção também foi morto?

Momento de agradecer àquele que tanto nos oferece, que nos mostra o caminho do amor, da paz e da gratidão como forma de ser e estar nesse mundo.
Chegar à Santiago de Compostela peregrinando é vivenciar uma fé que eu nunca pensei que pudesse perceber. É honrar a vida e fazer parte dela com total entrega e alegria. Viver toda a magia de peregrinar a caminho de Santiago e ali receber o seu abraço e e seu acolhimento é um dos momentos mais felizes da vida.

Sim, receber o Seu chamado é mágico e especial, fazer parte dessa egrégora de energia milenar, pura e transparente é mágico. Tudo o mais fica pequeno e insignificante diante da grandeza de estar completamente envolvida por ela. santiago é o pai, o irmão, o filho, o amigo que lançamos mão para nos acolher e nos ouvir. Ele é todo amor.

Tive o privilégio de peregrinar por aqueles caminhos por duas vezes, e também poder participar da linda festa em sua homenagem no dia 25/07.

Assista o vídeo dessa festa maravilhosa de 2014, ano em que eu estive lá!
https://www.youtube.com/watch?v=cLifUofsFsE

Toda essa projeção é feita na Catedral, as pessoas chegam no início da noite, colocam uma manta no chão, levam um lanche e ficam aguardando a linda festa que se inicia a meia noite ( do dia 24 para o dia 25/07). No dia 25/07/2014, eu assisti a chegada dos Reis da Espanha para participarem da Missa Oficial na Catedral, foi uma cerimônia muito linda! A cidade toda está em festa, muitas programações acontecem pelas ruas, nas praças.



Eu na chegada

Já li diversas histórias e estudos sobre Santiago ( em espanhol), São Tiago ( em português) Saint Jacques ( em francês), escolhi esta bem simples abaixo. 

Na Bíblia é comumente referido sob o nome de Jacob ou Jacó, termo que passou ao latim como Iacobus e derivou em nomes como Iago, Tiago e Santiago (sanctus Iacobus). Tiago filho de Zebedeu ou Santiago Maior foi um dos primeiros discípulos a derramar o seu sangue e morrer por Jesus. Membro de uma família de pescadores, irmão de João Evangelista -ambos apelidados Boanerges (‘Filhos do Trovão’), pelos seus temperamentos impulsivos- e um dos três discípulos mais próximos de Jesus Cristo, o apóstolo Santiago não apenas esteve presente em dois dos momentos mais importantes da vida do Messias cristão – a transfiguração no monte Tabor e a oração no Jardim das Oliveiras -, senão que também formou parte do restrito grupo que foi testemunha do seu último milagre, a sua aparição já ressuscitado nas margens do mar de Tiberíades. Após a morte de Cristo, Santiago, apaixonado e impetuoso, formou parte do grupo inicial da Igreja primitiva de Jerusalém e, no seu labor evangelizador, adjudicou-se-lhe, segundo as tradições medievais, o território peninsular espanhol, concretamente a região do noroeste, conhecida então como Gallaecia. Algumas teorias apontam que o atual patrono de Espanha chegou às terras do norte pela desabitada costa de Portugal. Outras, no entanto, traçam o seu caminho pelo Vale do Ebro e pela via romana cantábrica e há inclusivamente as que asseguram que Santiago chegou à Península pela atual Cartagena, desde onde prosseguiu a sua viagem até à esquina ocidental do mapa.

Fonte: https://vivecamino.com/pt/peregrinacao/quem-foi-santiago/



Foto da Catedral durante a festa do Apóstolo

ULTREYA!!!
VIVA SANTIAGO!!!!

domingo, 23 de julho de 2017

O Botafumeiro

"Tem um santo Compostela
E o rei dos incensários
Que de nave em nave voa."


VICTOR HUGO. Orientais




Qual o peregrino não ouviu falar do famoso Botafumeiro da Catedral de Santiago de Compostela? 
Todo peregrino sonha em assistir a Missa dos Peregrinos e ser testemunha do grande incensário que a todos emociona.
Porém, nem sempre isso é possível, depende de diversos fatores.
Mas vamos conhecer um pouco da história do Botafumeiro?
O Botafumeiro é um dos símbolos mais famosos e populares da catedral de Santiago de Compostela.É um incensário de grandes dimensões, pesa 53 kg e mede 1,50 mt, está suspenso a uma altura de 20 metros e pode alcançar 68 km/h. Ele se move na cúpula da Catedral até as naves laterias. Oito homens são necessários para movimentá-lo, são mais conhecidos como "tiraboleiros". 
O Botafumeiro é utilizado por motivos litúrgicos, da mesma forma que qualquer sacerdote utilizaria um incensário no altar, e funciona nas principais solenidades na Catedral.
Esse grande incensário simboliza a verdadeira atitude daquele que crê. Assim como a fumaça do incenso sobe mais alto dentro da Catedral, assim também as orações dos peregrinos devem alcançar o coração de Deus. Também, o aroma do incenso perfuma toda a Basílica compostelana, da mesma maneira, o cristão com as suas virtudes e seu testemunho de vida deve impregnar do bem os ensinamentos de Cristo na sociedade e na sua comunidade.
A primeira referência documental que se tem do Botafumeiro, é uma anotação numa página do Códex Calixtino, onde se lê " Turibulum Magnum", do séc XIV.No decorrer da história, tiveram vários Botafumeiros. Atualmente existem 2 exemplares, um deles em latão que data de 1851, obra de José Losada, que substituiu o que foi furtado durante a ocupação francesa das tropas napoleônicas, e é utilizado atualmente.



Botafumeiro que está na Biblioteca
O segundo Botafumeiro, é uma réplica em prata e foi presenteado ao Apóstolo pelos "Alféreces Provisionales" em 1971, e fica guardado na Biblioteca Capitular.
Oficialmente é utilizado nas seguintes solenidades:
- Epifânia do Senhor - 06 de janeiro
- Domingo da Ressurreição
- A Ascensão do Senhor
- Aparição do Apóstolo - Clavijo - 23 de maio
- Pentecostes
- O martírio de Santiago - 25 de Julho
- Ascensão de Maria - 15 de agosto
- Todos os Santos - 01 de novembro
- Cristo Rei
- Natal - 25 de dezembro
- Traslado dos restos mortais do Apóstolo - 30 de dezembro
Também pode ocorrer em razão de peregrinações que o solicitam a Catedral, que pode ser feito através de uma reserva no site: botafumeiro@catedraldesantiago.es

Fonte: http://www.catedraldesantiago.es/es/node/315
Tradução livre
Somente quem teve a oportunidade de presenciar uma Missa dos Peregrinos com o Botafumeiro pode dizer a emoção que toca o coração. É uma ligação mais que direta, é algo mágico. Desperta a curiosidade, a fascinação e a adoração.

Esse vídeo é divulgado pela Catedral de Santiago de Compostela
https://www.youtube.com/watch?v=MxhxCBnZRw4
Sinta essa emoção e participe da Missa dos Peregrinos, quem sabe a sua sorte não será assistir o Botafumeiro?

ULTREYA!


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sábado, 1 de julho de 2017

O companheiro cajado (atualizado)

"Companheiro de subidas, descidas, do choro e do sorriso, das lamentações e das bençãos. Inseparável, inestimável, incansável. 
Suporte, apoio, melodia e ritmo, amigo, confidente, forte e paciente. 
Guia, consolo, amparo, segurança, bondade e misericórdia. 
Gratidão!"
Célia Maciel


Maior símbolo e companheiro do peregrino, também chamado de bastão, é objeto de diversas homenagens, poesias, textos e até título de diversos livros. Sua importância vai desde a única companhia e "ombro" amigo, especialmente para os peregrinos solitários, até instrumento de defesa, útil para a limpeza das botas, muito utilizado para os exercícios e alongamentos e claro, apoio para equilíbrio na caminhada especialmente nas subidas e descidas.


Amparo até para tirar foto!

O cajado também permite ao peregrino verificar a profundidade do terrenos se este estiver com água ou lama e até saltar obstáculos, buracos, fio de água ou degraus.
Dizem que os primeiros peregrinos utilizavam o cajado como instrumento de defesa de animais ou até de pessoas com más intenções.
Com a tecnologia atual, o cajado também pode ser substituído pelo stick, muito utilizado nos esportes na neve, algumas pessoas se adaptam melhor a eles e muitas vezes utilizam 2, um em cada mão.

Definição segundo a Wikpedia:
  
Um cajado é uma vara de pastor, caracteristicamente tendo a extremidade superior recurvada em forma de gancho ou semicírculo. Ele é usado para tocar nas patas das ovelhas de leve para que elas retornem ao seu caminho não se desviando do caminho. Em algumas ocasiões, o cajado podia ser utilizado como arma. A ovelha conhecia o Pastor pelo cheiro do cajado que se apegava a sua mão, sendo assim, ela conhecia o Pastor e o seu cajado.
O cajado tem duas funções principais:Quando segurado pelo lado da curva, serve de vara para corrigir ou castigar as ovelhas que se desviam, e segurando-o pelo lado reto serve para socorrer a ovelha caída em buracos ou precipício, puxando-a pela curva do cajado.



Cajado tradicional


No decorrer da caminhada percebemos que o bater do cajado no chão adquire um ritmo que se torna importante motivação na caminhada. Geralmente a cada 4 passos toca-se o cajado no solo. Esse ritmo é uma verdadeira música que toma conta de nosso inconsciente e torna-se parte de cada um de nós.
Quando retornamos do Caminho da Fé, a Lia nos confidenciou que sentiu muita falta do ruído do cajado no solo.
Na Caminhada em Louvor a São José, eu e a Dani combinamos de não levar o cajado, resultado: arrependimento total! Ele nos fez muita falta! Foram 25KM com algumas subidas e descidas que poderiam ter sido aliviadas com o querido cajado. Sim, estudos dizem que 1 cajado alivia 30% dos esforço dos joelhos.
Nosso amigo Irineu peregrinou a maior parte de seu caminho sozinho, e chegou a nos relatar que ao derrubar seu cajado no chão, pediu-lhe desculpas, como que tivesse derrubado um querido amigo. Sim, o cajado já fazia parte dele, era a continuação de seus braços, parte integrante de seu corpo, tornaram-se um só.
Esta é a razão para o grande apego que o peregrino tem ao seu cajado, tratando-o com amor e carinho. Este pode ser exclusivo, cabendo a cada pessoa personalizá-lo da forma que quiser ou então confeccionar seu próprio cajado com um galho de árvore bastante resistente. Nos diversos caminhos de peregrinação existem pessoas que confeccionam cajados geralmente de bambu e oferecem aos peregrinos por preços módicos ou até sem cobrar nada.

Para quem efetua a peregrinação a Santiago de Compostela pelo Caminho Francês, em Azqueta (Navarra), Pablito oferece cajados feitos de madeira de avelã gratuitamente, ou troca o seu por um outro adequado a sua altura, bem como ensina a melhor maneira da sua utilização.




Irineu e Daniele com seus cajados


Um bom cajado deve ser leve e resistente e ter um comprimento máximo da altura de quem for utilizá-lo.
Eu me adaptei ao stick, que é muito leve, resistente e telescópio, oferece um apoio importante e consigo alternar os braços, o que é recomendado, ele possui um sistema “anti-shock”, que proporciona conforto em situações inóspitas, onde os impactos tornam-se inevitáveis, possui ponteira de alta resistência e um disco circular protetor para impedir a sua penetração em areia ou neve. Eu utilizei o cajado da Dani em algumas situações, para mim o cajado de bambu ou madeira é muito pesado.



Esse é um monumento ao cajado em Sahagún



Como tudo tem uma regra para facilitar e racionalizar a utilização, o cajado também possui algumas.

      1. Mantenha o braço e o antebraço num ângulo de 90 graus;
      2. Pouse simplesmente o cajado no solo não batendo o mesmo como a querer marcar compasso;
     3. No caso da utilização de apenas um cajado, alterne as mãos, mais ou menos a cada meia hora, assim, pode facilitar o equilíbrio, a distribuição do peso e evita o vício de postura;
    4. O cajado deve acompanhar a passada da perna oposta à mão que a segura (isso você vai perceber automaticamente);
      5. O pulso deve movimentar o cajado quando o terreno for plano.
      6. A utilização de luvas especiais pode auxiliar a evitar machucados nas mãos.


Stiks ao vento!!!

Na pousada de Águas da Prata nós ganhamos fitas coloridas (iguais a do Senhor do Bonfim), e imediatamente enfeitamos nossos cajados, e sticks, ficaram lindos! Eu também coloquei uma bandana no meu cajado que foi muito útil para proteger minhas mãos pois com o tempo elas ficam sensíveis e podem surgir bolhas.




Daniele e Lia utilizando o cajado para fazerem os alongamentos




O cajado é um "elemento muito forte e consistente", nas palavras de Cristo, na Bíblia. Na época os pastores e seu ofício eram relatados como símbolo de trabalho, paciência, humildade. Existem vários trechos na Bíblia onde o cajado é citado. Depois de algumas pesquisas, achei bastante interessante o trecho do Salmo 23, sobre o Pastor e seu Cajado, e remete ao nosso ofício de caminhar.
Transcrevo aqui um trecho:

O Salmo 23 ensina-nos que a presença do Pastor com seu cajado e vara amorosa nos trás muitos benefícios: 
1.Para a nossa solidão, ele oferece companheirismo; "Tu estás comigo".
2.Para o nosso cansaço, refrigério; "Tu me guia e refrigera a alma".
3.Para o nosso erro, a correção; "Tua vara e cajado me consola e encoraja".
4.Para o nosso terror, plena segurança; "Ao teu lado não a Medo".
5.Para as nossas necessidades; alimento, coragem e ânimo; "Tu és meu Anfitrião".
6.Para o nosso senso de transitoriedade, uma garantia de um eterno lar; "Tu me faz habitar na Tua Casa eternamente".
7.Para as nossas debilidades: "Tua bondade e misericórdia".




Os tradicionais a venda em algum lugar do caminho



Mochila e cajado, inseparáveis!

Ultreya!