quarta-feira, 2 de maio de 2012

Falando de gente


"As vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido".

Fernando Pessoa


Esse é o melhor tema a abordar no Caminho: GENTE!

E como se encontra com eleas nessa Peregrinação. Muitas delas são anjos sem nome e sem identidade que surgem e desaparecem como mágica. Mesmo dentro das cidades, nos deparamos com os moradores locais, quando avistam peregrinos com olhares perdidos, logo ghegam para nos dar indicações. Isso aconteceu muitas vezes.
Nos albergues, podemos dizer que existem muitos também, é claro que no meio dos anjinhos sempre existe aquele que "repetiu de ano" e ainda precisa se formar, mas do mesmo modo seguimos gentis, pois a vida se encarrega de ensinar.

Há um código interessante entre todas essas pessoas, que se chama respeito pela individualidade. Não existe a pergunta: " porque você está fazendo O Caminho de Santiago?" Eu não a escutei nenhuma vez! O respeito é tão grande que se torna bonito, como as flores, ninguém pergunta porque estão lá! Fazem parte da paisagem e do movimento constante da caminhada.

Também senti O Caminho como um sacerdócio, dia após dia, os mesmos rituais: acordar em silêncio, cuidar da higiene pessoal, preparar o corpo físico e mental e seguir em frente. Dia após dia, é como dizer um Mantra em voz alta, essa movimentação ecoa na egrégora formada há tantos anos, é a sinfonia dos passos, a marcação dos cajados,  a fluidez dos pensamentos. É como uma oração, tem intenção, tem ambiente e tem ritmo.

Conhecemos muitas pessoas nessa caminhada, de muitas partes da Espanha, de outros países e de continentes distantes. Muitas vezes me via imaginando as motivações de cada uma delas, o comportamento, a forma de se vestir, o caminhar, o falar, o silêncio, o olhar.

A 6 KM para chegarmos em Astorga, no meio do caminho, nos surpreendemos e encontramos David. Ele vive no caminho, tem uma barraca com alimentos de excelente qualidade a disposição dos peregrinos, ele fala e conversa o tempo todo nos contando da sua experiência. Vida normal em Barcelona, depois do Caminho de Santiago decidiu desapegar de tudo! Elegeu um local para viver e de certa forma minimizar o esforço dos peregrinos com o aconvhego de um banco com o calor do alimento. Também é poeta e faz questão de falar que todos os caminhos levam ao coração. Cuida do caminho, constrói setas com as pedras e também mandalas, diz que assim é bem feliz. Tem sempre uma palavra para os peregrinos e os recebe sempre com alegria e entusiasmo. Me lembro que ficamos estasiados com ele, mas o Gustavo ficou mesmo encantado!



 Essa é a Mandala que leva ao coração


Eu e Daniele com David



Em Rabanal del Camino conhecemos no Albergue Del Pilar  uma pessoa muito interessante, o alemão radicado na Espanha, conhecido como Lobo, um hospedeiro que recebe os peregrinos nos albergues com muita atenção e carinho. Ele nos contou que já fez o Caminho de Santiago algumas vezes e que há 16 anos trabalha como hospedeiro. Os hospedeiros são pessoas comuns, geralmente peregrinos que já percorreram o Caminho e trabalham nos albergues do Caminho voluntariamente. Existem programas de voluntariado e qualquer pessoa pode se candidatar. essas pessoas são muito importantes para os peregrinos, pois costumam fazer com que tenham um pouco mais de conforto e atenção nos albergues. No dia em que conhecemos o Lobo, fazia muito frio, ele ajudou a Daniele a secar as botas e também conversou conosco. Podemos dizer que são os anjos do Caminho.




Eu e Lobo



Dentre as várias pessoas que cruzamos no Caminho, algumas se tornaram enigmas. Num dos albergues, vimos um rapaz chegando todo molhado, pois vestia somente um casaco de moleton, a chuva e o frio tinham aumentado muito naquele dia. Ele chegou no albergue puxando um carrinho de mão, amarrado na cintura com suas coisas. Percebi que não conversou com ninguém, e não sentou-se conosco para o jantar, nem sei se ele se alimentou naquela noite. Nós o chamávamos de canadense, pois ele usava um moleton com o nome desse país na frente. Viemos a encontrar com esse rapaz que aparentava ter por volta de 30 anos, mais algumas vezes durante o Caminho. Ele não conversava com ninguém, estava sempre sozinho, solitário mesmo. Eu tive por 2 vezes a oportunidade de conversar com ele, mas percebi que não haveria disponobilização para isso. O que mais me intrigou nesse rapaz não era a sua opção pela solidão, pois entendo perfeitamente que muitas pessoas queiram ficar sozinhos e em silêncio nessa viagem interior, mas sim o seu olhar que por diversas vezes era vazio, distante e sem brilho. Tive vontade de ajudá-lo, mas a oportunidade não apareceu. Só me resta torcer para que ele tenha encontrado o que buscava. Quando chegamos a Santiago, comentei sobre ele com o Marcus, ele também tentou se aproximar do rapaz, mas ele foi refratário, só conseguiu saber que ele é da Lituânia. São os mistérios do Caminho.




Essa é a únioca foto que temos dele


Também encontramos muitas pessoas alegres e divertidas. Percebi que os espanhóis são muito descontraídos e fazem o Caminho com muita alegria. Conhecemos espanhóis de todas as regiões e eles são muito "bairristas", conversam em dialetos o que nem mesmo os próprios espanhõis entendem, imaginem nós! Dentre essas pessoas estam a Encarnación e Esther, duas amigas muito animadas. Estavam caminhando somente na Semana Santa e as encontramos em algumas etapas, até que retornaram para suas casas. Elas nos disseram que observavam muito a dupla brasileira ( eu e Dani), e que pensavam que nós estávamos passeando!! Já disse várias vezes que nosso totmo era bem mais tranquilo, mas passear?? Foi um exagero! Mas ficamos amigas e elas são muito simpáticas, conversamos algumas vezes, foi muito bom fazermos novas amizades.





 Eu e Encarna, no Albergue de Astorga



Em breve mais histórias.

ULTREYA!

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